Trumbo
Hoje, o Sessão da Meia Noite vai analisar mais um título nomeado para os Óscares, sem que este tenha vencido qualquer galardão.
Trumbo, 2015, de Jay Roach, com Bryan Cranston, Diane Lane, Hellen Miren.
Este filme, com argumento de John McNamara, baseado no romance “Donald Trumbo” de Bruce Cook, relata um pouco da história Americana dos anos 50 do século XX, numa altura pós Segunda Guerra Mundial, em que o mundo entrava na Guerra Fria, um período de desconfiança para com a então União Soviética e o comunismo em geral.
Nos Estados Unidos dos anos 40 e 50, o medo do comunismo, que atingia níveis de paranoia galopante, promoveu muitos saneamentos por suspeita de ligações ao partido comunista, causando centenas de despedimentos a simpatizantes comunistas e, até mesmo a alegados simpatizantes.
Num país em que a liberdade é uma bandeira essencial, e que a liberdade de expressão está consagrada na Primeira Emenda da Bill of Rights – a Constituição Americana, em vigor desde 1791, o medo da “conquista interna” por parte do papão comunista fez com que fossem sendo tomadas medidas contrárias à referida emenda, opressivas e até de repressão, que limitavam as liberdades dos cidadãos.
Um dos destinatários destas medidas foi Hollywood, sendo um alvo fácil, pela grande publicidade envolvida no negócio filmográfico, e pela facilidade de criar exemplos de admoestação para que outros sectores da sociedade americana tivessem receio de seguir pelos mesmos caminhos.
Foi o tempo da chamada Caça às Bruxas em Hollywood, e dos comités patrocinados pelo Senador Joseph McCarthy – House Un-American Activities Comittee, que perseguiam os simpatizantes comunistas indiscriminadamente.
É este o contexto retratado no filme, personificado pelo exemplo do argumentista famoso Donald Trumbo, e as dificuldades que este teve que suportar por ser simpatizante comunista numa época em que tal era considerado como antiamericano.
Bryan Cranston – o conhecido Walter White de Breaking Bad (criativamente traduzido por Ruptura Total), tem um desempenho irrepreensível como Donald Trumbo, construindo o personagem muito semelhante ao Trumbo original (de acordo com as referências da critica especializada), com muitas das suas particularidades de trabalho (as cenas de escrita na banheira são as minhas favoritas).
Trumbo vai funcionando sempre com o objetivo de trabalhar para suportar a sua família, mas sem se vergar perante a opressividade das comissões senatoriais, e das pressões da imprensa, personificadas pela colunista Hedda Hopper (Helen Mirren sempre irrepreensível), apoiada por atores famosos como John Wayne (aqui retratado por David James Elliot).
Este filme acaba por ter dois significados muito explícitos. Em primeiro lugar é acima de tudo de uma referência histórica, muito bem construída, de um período da história americana que importa conhecer para se perceber até que ponto o medo do desconhecido pode levar uma sociedade, que se diz justa e livre, à repressão dos seus cidadãos.
Em segundo lugar, para o público americano, trata-se de uma oportunidade de expiar pecados antigos, fazendo um mea culpa por comportamentos discriminatórios, muitas vezes iguais ou piores daqueles que se diziam querer combater.
Este filme é na sua essência um drama biográfico de uma referência de Hollywood, muito bem construído, essencial para quem gosta de temas históricos.