Sully - Milagre no Rio Hudson
Ontem, o Sessão da Meia Noite decidiu ir ver a mais recente obra de Clint Eastwood como realizador. Estreado a 8 de setembro em Portugal, esta obra biográfica retrata os momentos mais memoráveis da vida do piloto de aviação Chesley Sullenberger.
Sully - Milagre no Rio Hudson, 2016, de Clint Eastwood, com Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, Anna Gunn, Mike O'Malley, Jamey Sheridan, Jeff Kober.
Este filme reproduz os acontecimentos de 15 de janeiro de 2009, quando o Comandante Chesley "Sully" Sullenberger, após levantar voo do aeroporto de La Guardia em New York, viu o seu avião ser "atingido" por um bando de gansos, que danificaram ambos os motores do Airbus A320-214, ficando o avião sem potência.
Apesar deste facto, a tripulação do Airbus da US Airways e, essencialmente o seu comandante Sully, tiveram o sangue frio para tomar as decisões que levaram a uma aterragem forçada no Rio Hudson em que todos os passageiros e tripulantes da avião sobreviveram.
Não exatamente sobre o acidente ou os eventos que levaram à sua ocorrência, o filme retrata o estado de espírito do Comandante Sully após o acidente.
Apesar da glorificação massiva que os média americanos fizeram sobre um ato por eles considerado como heroico, num evento noticioso que correu o mundo, a investigação das entidades de segurança aeronáutica que se seguiu ao acidente, colocou em causa as ações do Comandante, questionando se teriam sido tomadas as melhores decisões.
Este processo de investigação faz aparecer diversos medos e inseguranças por parte de Sully, questionando-se se teria tomado a melhor opção. Os receios de Sully iam sendo agravados pelos medos da sua mulher que, à distância, não conseguia perceber a real dimensão do que se estava a passar na mente de Sully, introduzindo-lhe preocupações acessórias ao seu já pesado estado de espírito.
Num exercício muito típico de Clint Eastwood, e com argumento baseado no livro autobiográfico de Sully – “Highest Duty - My Search For What Really Matters”, o realizador consegue, com mestria, mostrar os medos e inseguranças de Sully, num contraponto onde quase todos o consideram como herói.
Todos os atores fazem um conjunto muito homogéneo, conseguindo colocar este filme num nível muito elevado, com muito sobriedade e profissionalismo. O Sully de Tom Hanks é bastante realista, com uma componente humana e de dever enorme, secundado com muita competência por Aaron Eckhart no papel do co-piloto Jeff Skilles.
Uma nota curiosa para a comissão de inquérito que é composta pelos atores Mike O’Malley, Jamey Sheridan e Anna Gunn, e que parece vacilar entre uma caça às bruxas e a glorificação de um herói, ficando por vezes sem rumo, à mercê dos resultados das avaliações e simulações da Airbus, da United Airlines e da CE Aviation/Snecma (motores).
No final temos um registo biográfico e histórico com qualidade superior, num dos melhores filmes deste estilo que o Sessão da Meia Noite viu nos últimos tempos, onde a dramatização da realidade é q.b. para a construção da história, num momento importante para os Estados Unidos da América, servindo como um boost da autoconfiança para os americanos e em especial para os nova-iorquinos.