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Sessão da Meia Noite

Comentários pessoais e (in)transmissíveis sobre cinema e televisão.

Sessão da Meia Noite

Comentários pessoais e (in)transmissíveis sobre cinema e televisão.

Serra Pelada - A Lenda da Montanha de Ouro

Um dos objetivos dos documentários é ajudar-nos a compreender os porquês dos comportamentos sociais dos diferentes povos, numa tentativa de aprender com os nossos erros e melhorar a nossa atuação futura.

 

É de um documentário deste tipo que o Sessão da Meia Noite vai falar hoje.

 

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Serra Pelada – A Lenda da Montanha de Ouro, 2013, de Victor Lopes, escrito por Maurício Lissovski e Victor Lopes.

 

Serra Pelada é um documentário brasileiro de 2013, com o patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Ministério da Cultura Brasileiro, Ancine, Petrobás e TVZero, que nos apresenta a última grande corrida ao ouro do século XX.

 

Nos finais da década de 70 do século XX, Serra Pelada era somente um pedaço de terra, com uma serra, sem grande valor, na Fazenda das Três Barras, no sudoeste do estado brasileiro do Pará, no Brasil, nas áreas marginais da Amazónia.

 

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No início dessa mesma década, já haviam sido descobertas, nas proximidades da Fazenda, importantes jazidas de ferro, pelo que havia indícios geológicos da possível ocorrência de outras mineralizações relevantes. No entanto, na Fazenda das Três Barras (propriedade de Genésio Ferreira da Silva) o dia-a-dia era o de uma normal exploração agropecuária brasileira.

 

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Contudo, nos finais de 1979, é descoberta à superfície do terreno, uma pepita de ouro, por um dos funcionários da fazenda.

 

A notícia desta descoberta correu rapidamente e, a meados de 1980, cerca de 20.000 a 30.000 garimpeiros, vindos de todo o norte do Brasil, estavam no local à procura do El Dourado anunciado.

 

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O garimpo original era num barranco vizinho à serra (Serra Pelada), onde mais tarde também foi descoberto ouro.

 

De um dia para o outro, literalmente (de acordo com os testemunhos dos locais), a serra, que tinha vegetação amazónica, foi limpa de qualquer tipo de coberto vegetal e preparada para a exploração.

 

Nasceu assim o nome de Serra Pelada (serra nua) para a maior mina de céu aberto de trabalho manual do mundo.

 

Este documentário mostra-nos as raízes de Serra Pelada e como esta evoluiu até ao seu declínio e eventual encerramento em 1992.

 

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Sem um narrador para nos guiar no meio desta história do final do século XX, somos confrontados com a brutalidade e dureza dos trabalhos executados sem o recurso a qualquer tipo de mecanização, através dos relatos de antigos garimpeiros, e outros importantes intervenientes no processo de exploração que, ainda hoje, não está totalmente concluído.

 

A riqueza permitiu a criação de uma nova cidade – Curiónopolis, que, no seu auge em 1985, tinha todos os serviços e assistência como uma qualquer cidade “desenvolvida”.

 

Através do Coronel Curió – prefeito de Curiónopolis, percebemos como o governo brasileiro foi montando um controlo, ainda que por vezes fosse aparente, sobre os garimpeiros, gentes de pouca formação, que também eram usados quando eleitoralmente era conveniente.

 

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Serra Pelada é um marco na história de indústria mineira mundial, pois foi a maior jazida de ouro superficial do mundo.

 

Até ao fecho do garimpo em 1992 foram extraídas 43 toneladas de ouro de uma mina que começou como uma serra com cerca de 140 metros de altitude e terminou como um lago com mais de 150 metros de profundidade.

 

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O documentário é riquíssimo pelos testemunhos que presta ao trabalho em condições sub-humanas dos garimpeiros que, de livre e espontânea vontade, apostavam tudo pelo brilho distante de uma pepita de ouro.

 

Fortunas fizeram-se e perderam-se aqui contadas pelas vozes dos próprios. O relato mais marcante é o do garimpeiro José Mariano dos Santos – o Índio, que, ao longo dos anos conseguiu extrair 1.183 kg de ouro, valendo aproximadamente 147 milhões de reais (cerca de 40 milhões de euros).

 

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O triste desta história é que a natureza das pessoas nunca se altera e o Índio torrou o dinheiro todo em apenas três anos. Na altura das filmagens do documentário, o Índio ainda continuava no garimpo, pobre, à procura da próxima pepita. José Mariano dos Santos acabou por faleceu em 2015, com 61 anos, vitíma de um derrame cerebral associado a hipertensão arterial, sem a pompa com que viveu o luxo de todo o ouro que encontrou.

 

Este pedaço da história brasileira apresentado pelo documentário Serra Pelada chega-nos com uma força enorme e uma frontalidade brutal, num registo com uma qualidade muito acima da média, onde vemos claramente o que o Homem é capaz quando cegado pelo brilho de uma pedra dourada.

 

 

Os interessados e curiosos sobre esta experiência social extrema, reflexo de um mundo cheio de contrastes,  podem ver o documentário aqui