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Sessão da Meia Noite

Comentários pessoais e (in)transmissíveis sobre cinema e televisão.

Sessão da Meia Noite

Comentários pessoais e (in)transmissíveis sobre cinema e televisão.

You Were Never Really Here

Este filme foi um dos títulos estreados em Portugal em 2018 que nos despertou muita curiosidade pelo modo como o trailer foi montado e pela força dramática do protagonista.

 

Após termos visto o filme, ficámos com as nossas expectativas satisfeitas mas de um modo diferente do que inicialmente tínhamos pensado.

 

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You Were Never Really Here - Nunca Estiveste Aqui, 2017, de Lynne Ramsay, com Joaquin Pheonix, Judith Roberts, Frank Pando, Ekaterina Samsonov, Alex Manette, John Doman, Alessandro Nivola.

 

Este filme é um thriller psicológico com uma forte componente dramática, e conta-nos a história de Joe, um veterano da Guerra do Golfo, que ganha a sua vida resgatando jovens crianças e adolescentes, das garras da exploração sexual de menores.

 

Joaquin Pheonix é Joe, um homem perturbado pela experiência de guerra, imperturbável perante a violência e capaz de a exercer de uma forma extrema, que vive com a sua mãe (Judith Roberts) quase incapacitada.

 

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Não sendo esta uma atividade que Joe exerce dentro dos limites estritos da lei, ele é bastante cuidadoso com os seus contatos e evita situações onde a sua potencial exposição o coloque em risco.

 

Contudo, um trabalho de resgate da filha do Senador Albert Votto – Alex Manette, vai complicar a sua vida e levantar o véu sobre um conjunto de práticas sexuais impróprias do Senador, quebrando um pouco da carapaça de imunidade de Joe, quando este se vê obrigado a cumprir uma promessa que fez à pequena Nina (Ekaterina Samsonov).

 

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O filme é muito violento mas não de um modo frontal. Joe castiga os seus oponentes de um modo brutal, utilizando martelos e marretas mas, todas estas cenas são apresentadas no momento antes do confronto e imediatamente após a violência.

 

Aqui, a mestria dramática de Joaquin Pheonix é um elemento em grande destaque, transmitindo ao espetador todas as sensações fortes dos confrontos mas sem o ato em si.

 

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Curiosamente, estas cenas foram rodadas assim por restrições de orçamento, no entanto tornaram-se numa característica que define este filme. Toda a violência física é apresentada num plano diferente do habitual, essencialmente focado nas suas implicações na personagem de Joaquin.

 

Muitas das cenas do filme são apresentadas em tons suaves e esbatidos, como se todo o trauma de Joe e a violência das suas ações fossem apresentados numa pintura impressionista que purificassem os meios pela justeza dos fins.

 

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Como referíamos no início, este filme cumpriu na plenitude as nossas espectativas iniciais e mostrou ser uma muito agradável experiência, e um exemplo de grande cinema.

 

Classificação SMN: 9/10.

 

 

Sound City

Há documentários que nos relembram ligações especiais a certos ícones que, sem sabermos, contribuíram muito para o nosso crescimento como indivíduos culturalmente relevantes.

 

No meio da música, há muitos destes ícones esquecidos e a desaparecer. O documentário de que falamos hoje relembra um destes ícones.

 

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Sound City, 2013, de Dave Grohl, com Dave Grohl, Lindsey Buckingham, Mick Fleetwood, John Fogerty, Trent Reznor, Taylor Hawkins, Josh Homme, Barry Manilow, John McCartney, Stevie Nicks, Rick Rubin, Krist Novoselic, Tom Petty, Pat Smear, Rick Springfield, Paula Salvatore, Corey Taylor, Lars Ulrich, Butch Vig, Lee Ving, Neil Young, Tom Skeeter.

 

Este documentário conta-nos a história de um dos estúdios de gravação mais importante da cena musical de Los Angeles, e de toda a costa Oeste dos Estados Unidos, desde a década de 70, até ao início dos anos 1990.

 

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Localizado numa zona industrial de Van Nuys em Los Angeles, Sound City Studios começou a sua atividade em 1969, numa antiga fábrica da Vox, pela mão de Joe Gottfried e Tom Skeeter, cujo objetivo original era fazer uma editora discográfica.

 

Após um começo complicado, os jovens empresários conseguem fundos para adquirir o que viria a ser um dos maiores trunfos do Sound Sity Studios, que foi uma consola de gravação Neve Electronics 8028, que era do mais avançado que havia para a  época, construída pelo engenheiro britânico Rupert Neve.

 

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A partir deste ponto somos conduzidos pela narração de Dave Grohl, através dos êxitos de Sound City Studios nos anos 70, pela época de ouro dos anos 80, e pelo declínio nos anos 90.

 

Mas, o que torna especial este documentário são os testemunhos oferecidos pelos próprios envolvidos na história de Sound City como Tom Skeeter, antigos colaboradores e funcionários do estúdio e dos próprios artistas.

 

Desde Neil Young a Mick Fleetwood, de Dave Grohl a Lars Ulrich, de Rick Springfield a Barry Manilow, de Rock Rubin a Butch Vig, todos comprovam a mística de um espaço que, nem tinha grande aspeto, mas que foi responsável por alguns dos melhores álbuns de rock do século XX.

 

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Os testemunhos levam-nos a perceber que a natureza de um grande álbum, não está só na excelência técnica da captura e tratamento do som, mas está, acima de tudo, nos sentimentos puros com que a música é construída, criando uma alma forte capaz de atingir o êxito.

 

Este foi o local onde nasceram os Fleetwood Mac, onde Rick Springfield gravou Jessie's Girl, onde foi criado o Nevermind dos Nirvana, onde Neil Young gravou After the Gold Rush, onde os Rage Against The Machine gravaram o seu melhor trabalho (Rage Against the Machine), onde os Metallica fizeram Death Magnetic, onde Josh Homme e os seus Queens of the Stone Age fizeram Rated R, entre muitos outros.

 

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Através do documentário, esta mística passa para o espetador.

 

O sentimento especial de que estes estúdios foram uma parte importante, ainda que nos bastidores, ao longo do nosso crescimento é palpável, real e, de algum modo, está presente nas nossas vidas, através das nossas bibliotecas de música.

 

Esta é a verdadeira importância deste documentário, que foi realizado e escrito por alguém com um real gosto pela história que estava a contar, pois era a sua história.

 

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Pessoalmente, no Sessão da Meia Noite, pensamos que é um documento fundamental para todos os verdadeiros apreciadores de boa música.

 

Classificação SMN: 10/10

 

 

 

Siberia

Agosto de 2018 viu estrear entre nós o mais recente filme de Keanu Reeves, realizado por Matthew Ross, cuja história decorre na Rússia, entre Moscovo e a Sibéria.

 

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Siberia, 2018, de Matthew Ross, Com Keanu Reeves, Boris Gulyarin, Ana Ularu, Pasha D. Lynchnikoff, Ashley St. George, Rafael Petardi, Elliot Lazar, James Gracie, Dmitry Chepovetsky, Kis Yurij, Molly Ringwald

 

Este filme é anunciado no trailer como um thriller sobre um negociante de diamantes e o comércio ilegal destas pedras preciosas. No entanto, após sairmos da sala de cinema, ficamos com a sensação de que este filme é mais uma história de amor que arde como um rastilho e se extingue com igual rapidez.

 

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Keanu Reeves é Lucas Hill que viaja para Moscovo para se encontrar com o seu sócio Pyotr (Boris Gulyarin) de modo a acertar o próximo negócio de diamantes. Logo se percebe que o negócio tem problemas pois Pyotr desaparece, deixando somente mensagens a Lucas.

 

O negócio, que já tinha comprador – o mafioso Boris Volkov (Pasha D. Lynchnikoff) e prazos acertados, obriga Lucas a viajar até uma pequena cidade próximo de Mirny, na Sibéria, onde encontraria Pyotr e a sua mercadoria: diamantes azuis.

 

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O seu sócio continua desaparecido mas, no café onde decide tomar uma bebida, conhece Katya (Ana Ularu), a dona do café, uma mulher bonita e quente, algo deslocada da realidade gélida da Sibéria.

 

A partir deste ponto gera-se uma relação amorosa entre Lucas e Katya, à mistura com a entrega dos diamantes, a violência previsível de um mafioso russo insatisfeito, e a corrupção das forças policiais russas que não olham a meios para atingir os seus fins.

 

O filme tem uma toada algo lenta no modo como a história nos é contada, assim como os planos de câmara que prolongam as cenas além do que seria desejável.

 

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Na prática o filme tem muito pouco de thriller, pois todaestalinha do argumento acaba muito desvalorizado, sobre o plot da história amorosa entre Lucas e Katya.

 

O argumento é algo desequilibrado e não faz a devida justiça ao protagonista. Quem estava à espera de um filme ao estilo de John Wick desengane-se.

 

Esta não é a melhor interpretação de Keanu Reeves mas o seu trabalho é competente e acaba por cumprir os mínimos necessários. Neste campo, Ana Ularu e Pasha D. Lynchnikoff apresentam-se algo superiores ao protagonista, por vezes até roubando o foco da atenção.

 

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O filme é interessante pelo contexto em que a história de insere e pelos locais onde ela se desenvolve, fugindo aos lugares comuns habituais, apresentando como metáfora o clima gélido das paisagens inóspitas da Rússia, com a frieza dos negócios ilegais de pedras preciosas.

 

Apesar dos problemas deste filme, ficámos com alguma curiosidade em ver o outro crédito deste realizador no IMDbFrank e Lola (2016), assim como curiosos acerca do percurso futuro deste jovem realizador.

 

Classificação SMN: 5/10.

 

 

Ocean's Eight

O sucesso da trilogia das aventuras de Danny Ocean, realizados por Steven Soderbergh, e com liderados por George Clooney e Brad Pitt – Ocean’s Eleven (2001), Ocean’s Twelve (2004) e Ocean’s Thriteen (2007), trouxe consigo muitos rumores de possíveis continuações.

 

Estas nunca ocorreram essencialmente pela relutância de George Clooney em prolongar esta série sem grandes certezas de resultados aceitáveis.

 

No entanto, a atual nomenclatura de women power que reina em Hollywood conseguiu pegar neste universo e criar um spin-off desta saga, onde a equipa é totalmente feminina, e que estreou em Portugal a 21 de Junho passado.

 

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Ocean’s Eight, 2018, de Gary Ross, com Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway, Mindy Kaling, Sarah Paulson, Awkwafina, Rihanna, Helena Bonham Carter, Richard Armitage, James Corden, Elliot Gould, Shaobo Qin, Dakota Fanning, Richard Robichaux, Damian Young, Marlo Thomas, Dana Ivey, Mary Louise Wilson, Elisabeth Ashley.

 

Este filme parte de uma premissa semelhante aos filmes anteriores, ou seja, a preparação e execução de um assalto. Mas não se trata de um assalto qualquer, obviamente!

 

Trata-se um roubo de joias valiosíssimas que estarão em exposição na Gala Anual do MET – Metropolitam Museum of Art.

 

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Lideradas por Debra “Debbie” Ocean, protagonizada por Sandra Bullock, um grupo de oito mulheres vão tentar reproduzir as melhores proezas de Danny Ocean e seus comparsas.

 

As ligações à trilogia principal são muitas, desde logo Debbie é irmã de Danny, cuja única aparição é o seu nome numa campa. Pois é, nesta variante da história, Danny Ocean está morto (ou estará mesmo?).

 

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Também aparece brevemente Reuben (Elliot Gould) a tentar demover Debbie do seu golpe, e Yen (Shaobo Qin) que mostra ainda manter os seus dotes de flexibilidade.

 

Outros cameos foram gravados mas ficaram na mesa da edição, entre eles as pequenas participações de Matt Damon e Carl Reiner.

 

A equipa é composta de atrizes bem estabelecidos em Hollywood: Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway, Sarah Paulson; atrizes que partilham o cinema com uma carreira musical: Rihana e Awkwafina; um talento cujo trabalho não tem sido devidamente valorizado ao longo dos anos: Helena Bonham Carter; e um novo talento à espera de uma grande oportunidade: Mindy Kaling.

 

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Num filme cheio do brilho do baile mais exclusivo de New York, as oito amigas vão tentar ludibriar a organização, a segurança, os convidados, e até um insistente investigador de seguros, para roubar, sem serem apanhadas, uma joia cujo valor ascende a 150 milhões de dólares.

 

Mas será a história assim tão linear? Talvez não. O argumento tem alguns twists interessantes, mas sem grandes surpresas, apesar de refletir um trabalho muito competente, apresentando a história de um modo compreensível para todos, numa condução lógica e fácil de perceber.

 

Apesar das diferenças de reconhecimento das diversas atrizes, as suas performances são muito equilibradas, fortalecendo a ideia de equipa em vez que um conjunto de indivíduos, favorecendo o resultado final.

 

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O realizador, habituado a apresentar qualidade nos seus trabalhos, mas por vezes menos aceite pelo grande público (Pleasantville, Seabiscuit ou Free State of Jones), tem aqui um potencial blockbuster com qualidade q.b., que não envergonha os filmes anteriores.

 

Tecnicamente o filme tem uma fotografia muito boa e um guarda-roupa excelente, que define cada uma das personagens e lhes transmite uma individualidade especial, que traduz as suas origens e as diferencia no seio da equipa.

 

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Em suma, este é um filme divertido e interessante, um pouco abaixo da trilogia mas cumprindo os seus objetivos na totalidade.

 

O Sessão da Meia Noite já tem publicado um post sobre o filme de 1960 que serviu de  base a todo este universo. Segue este link para o conheceres.

 

Classificação SMN: 8/10.