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Sessão da Meia Noite

Comentários pessoais e (in)transmissíveis sobre cinema e televisão.

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Shichinin no Samurai - Os Sete Samurais

Como prometido iniciamos os comentários sobre filmes com o tag The Best Of.

 

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Shichinin no Samurai - Os Sete Samurais, 1954, de Akira Kurosawa, com Toshirô Mifune, Takashi Shimura, Keiko Tsushima, Daisuke Katô, Isao Kimura, Minoru Chiaki, Seiji Miyaguchi, Yoshio Kosugi, Yukiko Shimazaki.

 

A história deste filme é muito simples. No interior do Japão feudal, uma vila de camponeses, aparentemente pobres, é frequentemente roubada por bandidos que lhes levam as colheitas e maltratam as mulheres.

 

Cansados desta ameaça constante, os camponeses decidem contratar samurais para os defenderem. Conseguem reunir sete samurais que não seguiam um daimyo, ou seja, não tinham um mestre. 

 

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Sem qualquer promessa de fama ou fortuna, os sete amigos vão lutar pelos camponeses, e com eles, em busca de justiça e contra a o bandidismo das zonas abandonadas pelos grandes senhores da sociedade feudal.

 

Como é óbvio, a grandiosidade e imensa importância deste filme tem que ser vista à luz do tempo em que ele foi realizado, ou seja, no contexto dos anos 50 do século XX, onde o cinema ainda era, maioritariamente, a preto e branco (as experiências com a cor ainda eram reduzidas), e vivia de musicais, dramas e filmes de guerra americanos como Jailhouse Rock de Richard Thorpe e com Elvis Prestley, 12 Angry Men de Sidney Lumet e The Bridge Over the River Kwai de David Lean.

 

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Desde logo, a duração do filme: 3h 27min.

 

Muito improvável nos dias de hoje, e capaz de afastar a maioria dos espetadores dos cinemas, as quase três horas e meia de filme conduzem-nos pelos três atos da história de um modo que não damos pelo tempo a passar. Naquilo que é uma grande vitória da realização e da edição, o filme mantêm-nos interessados apesar da sua longa duração.

 

Nos tempos em que vivemos, onde o imediatismo da internet e a velocidade da informação levam a descartar obras que exijam muito tempo, este filme teria muitos problemas comerciais. Curiosamente, já na altura, a versão americana do filme tinha menos 50 minutos de duração.

 

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Algumas técnicas cinematográficas são aqui conjugadas com sucesso pela primeira vez, como as imagens em câmara lenta para aumentar o efeito dramático, e a tipificação do herói relutante.

 

Akira Kurosawa também usa pela primeira vez múltiplas câmaras para filmar o mesmo take, de modo a não interromper a ação e assim ter mais opções para a pós-produção.

 

Em termos de cenários, a aldeia dos camponeses foi totalmente construída em Tagata, na península de Izu, próximo de Shinozuka, após a recusa de Akira Kurosawa em filmar a ação em cenários nos Toho Studios.

 

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Ele afirmava que, apesar das restrições de óbvias nas filmagens, a qualidade do set influenciava a qualidade das performances dos atores.

 

A necessidade de realismo, acabou por sofrer muito com as tempestades que danificaram cenários e atrasaram a produção. Estas situações contribuíram para o escalar dos custos de produção que terão ficado quatro vezes acima do orçamento original, e quase levaram a produtora de Akira Kurosawa à falência.

 

Curiosamente, vimos uma situação em tudo semelhante em Apocalypse Now (1979) de Francis Ford Coppola com a sua Zoetrope Studios.

 

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Além de todas as inovações técnicas empregues nesta obra, Os Sete Samurais não deixa de questionar a estrutura social muito rígida e estratificada do Japão medieval, onde as diferentes classes sociais não se deviam misturar.

 

Os dois exemplos mais claros deste facto no argumento são um samurai que nasceu camponês, e o romance entre uma camponesa e um samurai, negado pelo pai da camponesa.

 

Todas as inovações técnicas e a estrutura narrativa desenvolvida pelo brilhante realizador japonês, deram origem a filmes de muito sucesso como The Magnificent Seven (1960) de John Sturges, The Guns of Navarone (1961) de J. Lee Thompson, The Dirty Dozen (1967) de Robert Aldrich, só para mencionar alguns.

 

 

Curiosamente, este filme foi nomeado para dois Óscares da Academia para melhor guarda-roupa e melhor direção artística.

 

O filme, que é um pouco mal amado pelos japoneses (um sentimento muito popular entre nós também), mas é um marco na história do cinema pelo impulso que deu ao cinema ocidental através das novidades introduzidas no processo criativo e técnico, construindo as bases para muitos sucessos do cinema mundial.

 

Classificação SMN: 8/10.