Um dos nossos prazeres no Sessão da Meia Noite é a descoberta de curtas-metragens disponíveis na internet, na espectativa de sermos surpreendidos. Foi o que aconteceu com este pequeno vídeo de 16 minutos que vimos recentemente.
Logorama, 2009, de François Alaux, Jervé de Crécy e Ludovic Houplain, com as vozes de Bob Stephenson, Sherman Augustus, Aja Evans, Joel Michaely, Mar Winston, Andrew Kevin Walker, David Fincher, Gregory J. Pruss, Josh Eichenbaum, Jaime Ray Newman, Pauline Moingeon Vallés.
Logorama é uma curta de animação, onde o mundo é altamente estilizado utilizando somente logotipos e mascotes das mais diversas marcas e produtos que utilizamos no nosso dia-a-dia.
A ação decorre em Los Angeles e usa mais de 2.500 logos sobejamente conhecidos de todos, para contar uma história de uma perseguição com reféns, onde o mau é Ronald McDonald e os polícias são bonecos Michelin.
A composição do vídeo é muito boa, assim como a animação, num resultado muito divertido e visualmente muito atraente.
Na realizada, esta curta-metragem pretende demonstrar o quanto a sociedade atual está ligada, e por vezes é conduzida, por marcas identificadas universalmente pelos seus logos, numa aproximação à limitação da criatividade e ao livre desenvolvimento das nossas capacidades.
É uma experiência muito divertida e interessante de ver que aconselhamos a todos.
Para o Sessão da Meia Noite, qualquer filme do James Bond antigo é um clássico. Neste caso trata-se de uma obra "não oficial" sobre as aventuras do espião britânico mais famoso de todos os tempos.
Casino Royale, 1967 de Ken Hughes, John Huston, Joseph McGrath, Robert Parrish, Val Guest e Richard Talmadge, com David Niven, Ursula Andress, Peter Sellers, Orson Welles, Joana Pettet, Woody Allen, Deborah Kerr, William Holden, Charles Boyer, John Huston, Jean-Paul Belmondo, Barbara Bouchet, Jacqueline Bisset, Duncan Macrae, Valdek Sheybal, Geraldine Champlin, Angelica Huston, Burt Kwouk, Caroline Munro, Peter O'Toole, David Prowse, Angela Scoular, John Hollis, Milton Reid, Peter Burton, Nikki Van der Zyl, Terence Cooper, Dalilah Lavi, Stirling Moss.
Com um argumento baseado levemente no primeiro romance de James Bond por Ian Fleming, Casino Royale nasceu numa altura em que os direitos sobre a saga ainda não tinham sido todos arrebatados pelos produtores Albert R. Broccoli e Harry Saltzman, do que viria a ser a EON Productions.
Assim, o argumento apresente-nos um cenário onde o James Bond original (David Niven), que se encontravam retirado, tem que voltar ao ativo para investigar o desaparecimento de diversos espiões internacionais, entre eles M.
Para tal, James terá que medir forças com o misterioso Dr. Noah e a organização criminosa SMERSH, que é uma agência fictícia de contra inteligência Soviética, cujo acrónimo significa Spetsialnye MEtody Razoblacheniya SHpionov, ou em Português "métodos especiais de deteção de espiões".
A técnica utilizada por James Bond, que neste filme fica à frente do MI5 (sim, não é engano), é enganar a SMERSH com múltiplos Bonds e assim dissimular os seus reais planos. Devido a esta técnica, este filme foi publicitado utilizando a expressão:
"Casino Royale is too much ... for one James Bond!"
Este filme foi lançado no mesmo ano de You Only Live Twice, onde Sean Connery personificava o notório espião britânico. Na realidade, Casino Royale foi o quinto filme a retratar James Bond no cinema, mas com uma visão completamente diferente dos filmes anteriores.
Desde logo é uma comédia declarada, com alguma ação, cheia de elementos satíricos aos filmes de Bond e de espionagem em geral, este filme apresenta-nos um James Bond com família viva e presente, nomeadamente uma filha (nascida de uma relação com Mata Hari) e um sobrinho - Jimmy Bond (que é retratado por Woody Allen).
O elenco é riquíssimo, contendo tudo o que eram estrelas do cinema britânico da altura, e a realização é assegurada por seis realizadores diferentes, algo muito fora do normal, onde cada um foi responsável por algumas sequências em particular.
Obviamente que tanta estrela junta teria que dar problemas e o maior deles foi a grande inimizade entre Peter Sellers e Orson Welles cujas cenas em conjunto foram gravadas com duplos e compostas na edição. Os dois atores nunca estiveram simultaneamente em cena.
O produto final é extremamente divertido e bem construído, muito característico da época, por meio das cenas nonsense do argumento, e das qualidades humorísticas dos seus protagonistas.
A qualidade do filme revelou-se na aceitação do público, apesar dos resultados de bilheteira não terem sido superiores aos de You Only Live Twice (que estreou dois meses depois) e nas nomeações para prémios, nomeadamente para: Óscar para melhor música, BAFTA para melhor guarda-roupa e Grammy para melhor banda sonora.
Este é um clássico das sátiras aos filmes de espiões, que serviu de bitola para todos os que se lhe seguiram. São 2h11m de diversão assegurada, onde não damos pelo tempo passar.
De volta ao cinema português, o Sessão da Meia Noite viu recentemente um dos filmes portugueses mais premiados do ano passado e que nos suscitou mais expectativa.
São Jorge, 2016, de Marco Martins, com Nuno Lopes, Mariana Nunes, David Semedo, José Raposo, Jean-Pierre Martins, Ricardo Fernandes, Rodrigo Almeida, Paulo Batata, Beatriz Batarda, Gonçalo Waddington, Adriano Luz.
O argumento é uma história tirada do passado recente de Portugal, numa altura em que o País se viu envolvido numa das piores crises económicas e sociais de sempre.
Os anos da Troika, como ficaram conhecidos, começaram em 2011 e trouxeram ao País o garrote da ajuda externa, constituído por um conjunto grande de medidas destinadas a reequilibrar as contas do Pais, mas cuja consequência direta foi o agravar das condições de vida.
Saída deste contexto, é a nossa história sobre um jovem pobre e desempregado – Jorge (Nuno Lopes), praticante de boxe, que se vê obrigado a trabalhar como “segurança” numa agência de cobranças, de modo a evitar que a sua mulher (Mariana Nunes) e filho (David Semedo) voltem para o Brasil.
Jorge, é um católico temente a Deus e crente em São Jorge – o santo guerreiro, que não desiste, e luta para sobreviver num mundo difícil e sem oportunidades.
O seu trabalho como “agente de cobranças” leva-o para um mundo de violência e crime, difícil de conciliar com o seu forte caráter.
O Jorge de Nuno Lopes é um homem que luta pela consistência da sua família, forçado a ir contra a sua personalidade, numa luta moral constante entre a necessidade e o correto.
Nuno Lopes tem um desempenho extraordinário, muito acima dos seus co-atores, suportando um filme que é essencialmente sobre as dificuldades de sobreviver, num meio adverso, sem oportunidades, sem base de apoio familiar, e onde a moral é algo discutível.
O filme vive da presença do seu protagonista, quase como se de um documentário se tratasse sobre o passado recente do País.
Apesar dos prémios ganhos serem merecidos, não deixamos de ficar como a sensação de expetativas só meio cumpridas pois, além da performance de Nuno Lopes, o filme não tem muito mais.
O argumento parece curto, e sem grandes ramificações. Na realidade estávamos à espera que o boxe tivesse um papel mais importante na desenvolver da trama.
De qualquer modo, é um filme imperdível pela qualidade de interpretação de Nuno Lopes que não é normal.
A British Academy of Film and Television Arts realizou ontem a 71ª cerimónia da entrega dos prémios para cinema, como sempre no Royal Albert Hall, com Joanna Lumley a substituir Stephen Fry na condução da cerimónia.
Este ano, os Baftas consagraram em absoluto "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" como o grande vencedor da noite, arrebatando cinco prémios: Melhor Filme, Filme Britânico, Atriz, Ator Secundário e Argumento Original.
O filme com mais nomeações à partida era"The Shape of Water" (12), que conseguiu três galardões: Realização, Design de Produção e Banda Sonora.
Parece que "The Shape of Water" perde um pouco do ímpeto que o conduzia aos Óscares como grande favorito, sendo claramente ultrapassado por "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri".
Contudo, desde 2013 que o melhor filme dos Baftas não coincide com o Melhor Filme para os Óscares.
Reforçados como grandes favoritos saem Gary Oldman (Melhor Ator) que teve direito a uma ovação em pé, Allison Janney (Melhor Atriz Secundária), Frances McDormand (Melhor Atriz) e Sam Rockwell (Melhor Ator Secundário).
De mencionar também o prémio de estrela em ascensão para Daniel Kaluuya, e o prémio carreira entregue ao realizador Ridley Scott, pelo príncipe William e Kenneth Branagh.
No dia 4 de março próximo saberemos se os Baftas continuam a ser uma previsão acertada para os Óscares.
O Sessão da Meia Noite tem vindo a acompanhar uma série de thriller político do Netflix mas, até à data ainda não tinha havido a oportunidade de fazer o nosso comentário.
House of Cards começou como uma experiência, mas rapidamente nos agarrou e nos convidou para os meandros das sedes de poder e corrupção política Norte-Americanas.
Assim, e uma vez que já vimos todas as temporadas disponíveis (cinco), vamos fazer uma pequena resenha da história de House of Cards e das temporadas passadas, mas com especial enfoque na temporada 5.
House of Cards – Temporada 5, 2017, de Beau Willimon, com Kevin Spacey, Robin Wright, Michael Kelly, Derek Cecil, Kate Mara, Corey Stoll, Sebastian Arcelus, Michael Gill, Dan Ziskie, Mahershala Ali, Boris McGiver, Jayne Arkinson, Sandrine Holt, Rachel Brosnahan, Milly Parker, Gerald McRaney, Curtiss Cook, Jimmi Simpson, Elizabeth Marvel, Paul Sparks, Joel Kinnaman, Kim Dickens, Lars Mikkelsen, Neve Campbell, Campbell Scott, Patricia Clarkson, Dominique McElligott, Damian Young, James Martinez, Reg E. Cathey, Colm Feore, Reed Birney.
House of Cards é uma série que estreou em 2013 pela mão da Netflix, e que nasceu da adaptação de uma minissérie homónima da BBC, de 1990. Os protagonistas são Frank Underwood (Kevin Spacey) e Claire Underwood (Robin Wright), um casal de políticos sedentos de poder e influência, capazes de tudo para alavancar as suas aspirações nos corredores do poder Americano.
Frank é um congressista democrata, eleito pelo 5º distrito da Carolina do Norte, e House Majority Whip, que para nós seria o líder da bancada democrata. Claire lidera uma organização não-governamental – Clean Water Iniciative, e não tem grande protagonismo individual, além de suportar as jogadas de Frank, numa espécie de power-couple.
A primeira temporada tem início com a eleição de Garrett Walker como o novo Presidente, eleito com o apoio incondicional de Frank, no pressuposto de este ser nomeado Secretário de Estado.
Mas, o Presidente tem outras ideias para Frank, que implicam a sua continuidade no Congresso, o que este vê como uma traição. A partir daqui, Frank vai maquinar e colocar em prática um plano, para minar a credibilidade do Presidente, e colocar em posições chave pessoas da sua confiança, ou melhor, pessoas que lhe devam favores.
Numa jogada de mestre que envolve dar informações à imprensa, alimentar e destruir um candidato democrata a Governador da Pensilvânia, forçar o Vice-Presidente a se candidatar a Governador da Pensilvânia (o seu estado natal) para que os Democratas não percam essa vantagem, Frank termina a primeira temporada a ser nomeado Vice-Presidente dos Estados Unidos.
Na temporada dois, Frank e o seu chefe de gabinete Doug Stamper (Michael Kelly), vão varrendo para debaixo do tapete as pontas soltas dos esquemas de Frank, e tal modo que Doug é agredido e fica incapacitado para exercer as suas funções.
Mas, apesar disso, Frank e Claire continuam a conspirar contra o Presidente, minando a confiança dos seus apoiantes, armando os opositores do Presidente sobre financiamentos de campanha duvidosos, de tal modo que, no final da temporada, Frank Underwood é nomeado Presidente dos Estados Unidos.
Como presidente nomeado a meio de um mandato, na temporada três, Frank vai tentar apresentar trabalho de modo a ter uma posição forte nas eleições seguintes.
Claire Underwood começa a tentar impor a sua própria agenda, colocando muita tensão na relação do casal maravilha mas, consegue ser nomeada como Embaixadora nas Nações Unidas.
Mas uma crise internacional no Vale do Jordão, envolvendo a Rússia e o seu presidente Viktor Petrov (Lars Mikkelsen) forçam a demissão de Claire do seu cargo nas Nações Unidas.
Numa tentativa de se autopromover, Frank contrata um escritor – Thomas Yates (Paul Sparks) para escrever a sua biografia, acompanhando o Presidente e a Primeira-dama quase em permanência.
O plano da biografia não corre como planeado pois Thomas escreve de acordo com a sua consciência, e o que vê na Casa Branca, o que leva o seu trabalho a se focar demasiado na pessoa de Frank e na sua relação com Claire.
De igual modo Thomas começa a desenvolver uma certa atração pela Primeira-dama.
Todas estas situações vão aumentando os atritos no casal presidencial de tal modo que, no cair do pano da temporada três, Claire mostra a sua intensão de se separar de Frank e Thomas é despedido.
A temporada quatro é dominada pela companha eleitoral de Frank, pelas investidas de Claire em ser apresentada como candidata a Vice-Presidente, por um atentado à vida do Presidente, e por uma investida de radicalistas islâmicos em território americano.
O atentado sofrido por Frank que o coloca em coma, deixa o seu Vice, Donald Blythe (Reed Birney) como Presidente interino que, com grande inexperiência, se volta para Claire para aconselhamento e apoio, ao que ela responde afirmativamente, manobrando as circunstâncias em seu favor.
Quando Frank recupera, apesar de descontente com os atos de Claire, encontra-se sem margem de manobra, pelo que cede aos caprichos de Claire, voltando o casal ao trabalho com o mesmo objetivo, apesar de agora com um afastamento pessoal quase completo.
A descoberta das metodologias menos corretas de Frank e Claire continua, pela mão do editor do Washington Herald Tom Hammerschmidt (Boris McGiver), que publica diversos artigos que colocam a nu os esquemas do Presidente, prejudicando os seus esforços para a eleição.
O final da temporada quatro é dominado pelo rapto de uma família americana por extremistas islâmicos (aqui denominados de ICO), que introduz na trama o Governador Will Conway, mas que culmina na morte de um dos reféns em direto.
Chegados à temporada cinco, temos o foco todo nas eleições para a Presidência de 2016, disputadas entre Frank Underwood e Will Conway.
Entre muitas jogadas de bastidores utilizando como argumento a segurança dos votantes e o fecho antecipado de algumas locais de voto, a eleição termina sem um vencedor claro, pois há dois estados que se recusam a certificar os resultados.
Este impasse dura semanas pelo que é evocada a 12ª Emenda da Constituição e a decisão é colocada nas mãos do Congresso. Os jogos de poder e tráfico de influências continuam mas, também aqui, não é possível obter um vencedor mas, com um senão importante: Claire vence a sua eleição para a Vice-Presidência e torna-se Presidente Interina.
Para resolver a situação, os dois estados onde persiste o impasse tem uma eleição especial que, termina com a vitória de Frank Underwood, devido essencialmente à quebra emocional de Will Conway, cujas provas são enviadas à imprensa antes da eleição.
Contudo, esta vitória de Frank não é muito celebrada pois os artigos de Tom Hammerschmidt levantam questões importantes que forçam o Congresso a abrir uma investigação, e a pedir a destituição do Presidente.
Numa mudança de estratégia, Frank decide resignar antes do final das investigações desde que, a Presidente que ficaria em funções (Claire) lhe atribuísse um perdão presidencial.
Este novo plano é colocado em marcha, não sem que antes sejam eliminadas todos as pontas soltas da história, concretamente com a morte “acidental” de diversas figuras que poderiam saber demais.
A temporada cinco finaliza com Claire na Casa Branca como Presidente, a recusar os telefonemas de Frank por causa do perdão que ainda não foi atribuído, dizendo: “My turn”.
Esta série revela uma grande complexidade na teia de interesses que circula nos corredores do poder dos Estados Unidos, desde o Congresso até à Casa Branca.
Realizada com grande qualidade, o intrincado de interesses e manipulações desenvolvidas pelos Underwoods, revela um grande conhecimento do modo de funcionamento das instituições Americanas, por vezes desvirtuando o objetivo do serviço público em prol do ganho pessoal.
House of Cards tem um grande desenvolvimento nas três primeiras temporadas, sendo difícil de largar a televisão. Nas duas últimas, o ímpeto inicial desacelera um pouco, com a chegada dos jogos de campanha e do radicalismo islâmico à história.
A capacidade de manipulação de Frank e Claire foi desenhada com grande mestria, não deixando espaço ao espetador para áreas cinzentas: ou gostamos deles ou os odiamos.
De qualquer modo, é uma excelente série que continua a merecer o nosso interesse para, o que já foi anunciado como a sua temporada final. Devido ao escândalo de assédio sexual que varre a indústria do entretenimento americana, Kevin Spacey foi despedido da série e não participará na sexta temporada.
Ficamos assim a aguardar a temporada final, que terá somente oito episódios e se deverá focar em Claire e nas suas novas funções.
Ainda sem se conhecer a data definitiva, está prevista a estreia para este ano.
No Sessão da Meia Noite temos hoje a oportunidade de falar sobre o nosso filme brasileiro favorito de todos os tempos. Um filme que viria a mudar a maneira de ver as operações da polícia militarizada nas favelas do Rio de Janeiro.
Tropa de Elite, 2007, de José Padilha, com Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Maria Ribeiro, Milhem Cortaz, Fernanda Machado, André Di Mauro, Paulo Vilela, Fábio Lago, Marcelo Valle, Fernanda de Freitas, Alex Avellar, Ricardo Pagotto Piai, Guilherme Aguilar, Pedro Bonfim.
O filme narra as histórias do BOPE (Batalhão Operações Policiais Especiais) na contenção da violência nas favelas do Rio de Janeiro.
O argumento decorre em 1997, antes da visita de sua santidade o Papa João Paulo II ao Rio de Janeiro, quando o Capitão Roberto Nascimento (Wagner Moura) é incumbido de eliminar os riscos relacionados com o tráfico de droga no Morro do Turano, próximo dos locais de passagem e estadia do Papa no Rio de Janeiro.
Crente na eficácia do BOPE, o Capitão Nascimento assume a sua tarefa com profissionalismo, ao mesmo tempo que procura um substituto para liderar a sua unidade uma vez que, a sua família o pressiona para a sua saída das atividades operacionais mais perigosas.
Contudo, as ideias do Capitão Nascimento vão mudar com a entrada no BOPE de dois aspirantes: Neto Gouveia (Caio Junqueira) e André Matias (André Ramiro), que trazem consigo capacidade de liderança e uma vontade férrea de lutar contra a violência dos traficantes e a corrupção da Polícia Militar.
Pelo caminho somos confrontados com os verdadeiros responsáveis pelas atividades criminais no Morro, e apresentados aos meandros da corrupção que grassa na Polícia Militar, desde os graduados mais baixos até às mais altas patentes.
Este filme foi a primeira longa metragem de José Padilha, depois do sucesso do seu premiado documentário Onibus 174 (2002), e revelou ao mundo uma nova abordagem à violência nas favelas, apresentada de um modo muito frontal e direto.
Na realidade, este filme gerou muita discussão e controvérsia na sociedade brasileira, pois introduziu o conceito de que os verdadeiros responsáveis do tráfico de droga são os utilizadores das drogas, essencialmente de classes médias e altas, sem os quais não haveria mercado para os estupefacientes traficados.
Baseado no livro "Tropa de Elite" do antropólogo Luiz Eduardo Soares e dos oficiais do BOPE André Batista e Rodrigo Pimentel, o filme é uma reflexão correta e exata, da violência urbana na cidade do Rio de Janeiro e das atividades do BOPE e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
José Padilha criou uma forma diferente de apresentar ao mundo as realidades violentas da sociedade brasileira, incutindo veracidade e realismo nas suas produções, sem grandes truques de imagem que pudessem prejudicar o resultado final.
A realização é irrepreensível, e a sua capacidade de dirigir o talento dos atores num contexto agressivo como são as favelas brasileiras, comprova a sua qualidade.
De igual modo, a fotografia do filme é muito boa, misturando o sortido colorido das típico brasileiro, com as realidades da noite escura nos raides contra o tráfico. O elenco é muito bom, mas temos que destacar o trabalho de Wagner Moura cujo carisma conduz o espetador pela mão durante todo o filme.
Longe do que nos chega através das novelas, este filme mostra-nos um pouco do que é a vida do brasileiro pobre nas favelas, onde o tráfico é a única solução para sobreviver, alimentado pela procura dos riquinhos da zona sul, e controlada pelos líderes da Polícia Militar.
Excerto "Quêm matou esse homen?"
É um filme cuja violência pode afastar alguns espetadores mais influenciáveis mas, definitivamente a ver sem qualquer dúvida. O trabalho final é de excelente qualidade.
Os estúdios da Amazon Productions lançaram em dezembro do ano passado um filme que nos despertou a curiosidade pela qualidade do elenco reunido. No Sessão da Meia Noite já vimos o filme e, no geral, não nos desapontou.
Last Flag Flying - Derradeira Viagem, 2017, de Richard Linklater, com Bryan Cranston, Laurence Fishburne, Steve Carell, J. Quinton Johnson, Deanna Reed-Foster, Yul Vazquez, Graham Wolfe, Richard Robichaux, Cicely Tyson.
Um elenco de luxo, guiado por um realizador com provas dadas, trazem até nós um drama sobre as muitas histórias de guerra que ficam por contar quando os soldados voltam para casa para serem sepultados.
Larry "Doc" Shepherd (Steve Carell) procura os seus dois companheiros da guerra do Vietname mais próximos, para o acompanharem na árdua tarefa de sepultar o seu filho Larry, morto na guerra do Afeganistão.
Os dois companheiros de Doc são Sal Nealon (Bryan Cranston) - um dono de bar alcoólico e sarcástico, e Richard Mueller (Laurence Fishburne) - um reverendo da igreja, juntos por uma amizade forjada nos campos de arroz e nas prostíbulos do Vietname mas, há muito distantes pelas circunstâncias da vida.
Esta epopeia, vai servir de redescoberta da amizade entre os três amigos, pelo meio do processo de luto de Doc. Os três vão percebendo que as suas realidades atuais são resultado direto dos comportamentos em tempo de guerra, numa tentativa de expiação de pecados passados.
Apesar do argumento se revelar um pouco curto e demasiado linear, a interpretação dos três protagonistas é irrepreensível, mais uma vez expondo na tela as virtude de representação de Bryan Cranston e Laurence Fishburne.
Steve Carell nunca foi um dos nossos atores favoritos, e não estamos habituadas à sua presença dramática, no entanto, ele consegue acompanhar a excelência dos atores que o acompanham, construindo um Doc envolto num sofrimento sem dimensão mas, ao mesmo tempo, contido, e à procura de soluções para o futuro.
O realizador consegue, apesar do seu elenco de estrelas, criar um conjunto muito homogéneo, onde os três protagonistas se suportam mutuamente, construindo assim uma história dramática, de pessoas reais.
No entanto, esta viagem também é de descoberta para os três e, talvez a coisa mais importante que os nossos amigos descobrem, além do valor da verdadeira amizade, é que, por vezes, uma verdade atrasada é pior que uma mentira piedosa atual.
O trabalho de realização é muito bom e, juntamente com a qualidade da representação, é o que suporta o filme, conferindo-lhe a mais valia que o coloca acima da média.
Este argumento é adaptado de um romance homónimo de Darryl Ponicsan de 2005, mas revela-se o elemento mais fraco do filme, talvez pouco trabalhado.
Classificado como uma comédia dramática, o ênfase no drama é infinitamente maior que na comédia (mecanizada em cena pelo sarcasmo do personagem Sal Nealon) pelo que discordamos desta classificação, e consideramos este filme como um drama puro e duro, sobre o sofrimento dos familiares de soldados em zonas de guerra.
Vale muito a pena uma visualização pelas performances de realização e elenco.
Como prometido no nosso post de 26 de outubro de 2017, já vimos a sequela do sucesso de horror The Ring – O Aviso, e aqui deixamos os comentários do Sessão da Meia Noite.
The Ring Two - O Aviso 2, 2005, de Hideo Nakata, com Naomi Watts, David Dorfman, Kelly Stables, Daveigh Chase, Simon Baker, Elizabeth Perkins, Gary Cole, Sissy Spacek, Mary Elizabeth Winsted, Ryan Merriman, Emily VanCamp, Kelly Overton, James Lesure.
Esta segunda parte do The Ring pega no mesmo conceito e nas mesmas personagens do primeiro filme, numa tentativa de cavalgar o êxito do primeiro filme, sem grandes alterações, e reduzidas aspirações a uma obra de qualidade.
A história decorre seis meses depois dos eventos do primeiro filme, numa altura em que Rachel (Naomi Watts) e o seu filho Aidan (David Dorfman) se mudam de Seattle para Astoria, Oregon, numa tentativa de um novo recomeço.
A trabalhar no jornal The Daily Astorian, Rachel ouve relatos sobre mortes inexplicáveis de adolescentes e, ao acompanhar o caso, começa a reconhecer semelhanças com os feitos maléficos de Samara e a cassete de vídeo assombrada.
A malvada Samara parece determinada em voltar a infernizar a vida de Rachel e Aidan, de tal modo que possui o espírito de Aidan, criando assim uma teia de abuso psicológico que vai levar à hospitalização de Aidan e à dúvida sobre a competência de Rachel como mãe.
Numa tentativa de se livrar de Samara, Rachel investiga o seu passado, e acaba por descobrir a mãe biológica de Samara num hospital psiquiátrico, cujo único conselho que ela lhe consegue transmitir é “listen to her baby”.
Deste ponto em diante, Rachel percebe que terá que exorcizar o espirito de Samara do corpo de Aidan, e depois deixar-se cativar pelo seu mundo monocromático, de modo a conseguir aprisiona-la de novo no seu poço.
Hideo Nakata que tinha sido responsável por Ringu e Ringu 2, os originais japoneses que deram origem à teia de The Ring, não conseguiu criar qualquer tipo de novidade, quer na história, quer no contexto do filme, tendo-se ficado por fazer uma “cópia” do primeiro.
Apesar da grande aceitação comercial desta sequela, ao Sessão da Meia Noite parece-nos um filme inferior ao primeiro, sem o impacto da novidade da história para nos cativar.
De qualquer modo, percebe-se a competência do realizador na criação de ambientes sombrios e de grande pressão psicológica, capaz de criar cenas que deixam o espetador assuntado e em sobressalto.
No capítulo da representação, Naomi Watts tem uma presença muito natural neste tipo de papéis, parecendo genuinamente assustada e transmitindo essa sensação de uma forma muito credível para o público.
No geral, e referindo mais uma vez que não somos fãs aguerridos do género, consideramos que o filme cumpre o objetivo, mas fica alguns degraus abaixo do primeiro, essencialmente pela falta de originalidade.