No Sessão da Meia Noite sempre tivemos um especial carinho pelo trabalho do realizador canadiano David Cronenberg, especialmente pela sua habilidade em contar histórias bizarras e fora do usual, como aquela cujo comentário apresentamos de seguida.
A History of Violence - Uma História de Violência, 2005, de David Cronenberg, com Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris, William Hurt, Ashton Holmes, Heidi Hayes, Peter McNeill, Stephen McHattie.
Esta história é baseada numa novela gráfica de John Wagner e Vince Locke, e apresenta-nos um pai de família pacato - Tom Stall (Viggo Mortensen), que vive com a sua família numa pequena cidade fictícia do interior da América - Millbrook, Indiana, onde todos se conhecem.
Tom trabalha num café na cidade, do qual também é dono, é casado com Edie Stall (Maria Bello) que é a advogada da terra, e têm dois filhos.
A vida de Tom corria normalmente, sem sobressaltos ou surpresas, até à altura em que chegam à cidade dois forasteiros que tentam assaltar o café de Tom.
Pressentindo que a situação poderia descambar em algo muito grave, Tom confronta os assaltantes e consegue supera-los, com aparente facilidade, sem que nenhum dos seus clientes ficasse magoado, mas matando os dois assaltantes.
Imediatamente a realidade de Tom é alterada por pressão dos media, pois torna-se num herói instantâneo, com todas as cadeias de televisão local e regional, assim como os jornais, a louvarem o mais recente herói americano.
Contudo, estas alterações todas, trazem consigo alguns problemas que ninguém esperava. Percebemos então que Tom não foi sempre Tom, em tempos teria sido Joey Cusack, e que o seu passado poderá ter uma vertente bastante negra.
A partir deste ponto, Tom terá que debelar as reações da sua família que desconhecia toda esta realidade, com os fantasmas do seu passado que teimam em tentar agarra-lo para um ajuste de contas pendente à muito tempo.
David Cronenberg consegue magistralmente jogar com as duas realidades de Tom, que tenta a todo o custo manter a integridade da sua família atual, ao mesmo tempo que se vai apercebendo que, inevitavelmente, o seu passado chegará até ele.
O realizador teve ao seu dispor um leque de grandes atores que fazem deste filme, que na realidade é muito violento, uma excelente obra de ficção.
Viggo Mortensen, Maria Bello, Ed Harris e William Hurt compõem os principais personagens com grande mestria, demonstrando mais uma vez que quem sabe nunca esquece, e que é com os personagens desafiantes que os verdadeiros atores aparecem.
Se mais fosse preciso, a qualidade deste filme ficou demonstrada pelas nomeações para dois Óscares (melhor ator secundário e melhor argumento adaptado), para dois Globos de Ouro (melhor filme dramático e melhor atriz) e para um Bafta (melhor argumento), além de muitos outros.
Assim, apesar da dimensão da violência física e psicológica ser apreciável, o filme é muito bom, merecendo uma atenção especial dos apreciadores de histórias sobre a máfia irlandesa de Filadélfia, com um twist original.